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Foto de Lua Barros

Ser pai e mãe: ninguém nasce sabendo

“Houve um tempo em que quis consertar meus filhos”, diz Lua Barros em seu livro  Eu não nasci mãe – O que precisei desaprender para aprender a ser mãe. Nessa época, era frequente que ela se sentisse impotente depois de brigar com uma de suas quatro crianças. No seu ouvido, uma voz lhe dizia baixinho: “você é uma péssima mãe”. A ex-publicitária, que também vivia a busca por uma nova carreira, se perguntava: “Será que não há um curso para ajudar a ser mãe?”. Pois havia. Depois de fazer cursos livres em Disciplina Positiva e Parentalidade Positiva, a pernambucana ganhou ferramentas e repertório para consolidar sua opção intuitiva por educar os filhos com base no respeito e no diálogo. E ainda encontrou um novo caminho profissional, tornando-se educadora parental. Em 2019, ela criou com o marido, Pedro Fonseca, a Rede Amparo, uma instituição que oferece cursos relacionados à educação dos filhos, relacionamentos familiares e outros temas contemporâneos.  Mas não é só na Amparo que é possível conhecer suas ideias sobre maternidade e paternidade. No Instagram, a influencer de 40 anos conquistou 133 mil seguidores com posts em que fala com franqueza sobre as suas dúvidas e critica a busca dos pais pela obediência: “A obediência evita que a criança desenvolva autonomia”, acredita.

Como chegou ao trabalho como educadora parental?

Eu me formei em Design, mas sempre trabalhei com estratégia de comunicação. Tinha acabado de me mudar para São Paulo, já casada, quando engravidei. Não tinha por perto uma rede de apoio: minha mãe, aquelas amigas da vida inteira. Vivi o processo de ser mãe de um jeito muito autêntico, conectado comigo mesma. Quando precisei voltar a trabalhar, a rotina de deixar o João o dia inteiro na escola e chegar da agência tarde da noite começou a me consumir.  Logo engravidei pela segunda vez. Estava em ascensão na empresa, mas aquele trabalho não cabia mais na minha vida. Eu não sabia exatamente o que queria fazer, mas sabia que não queria mais estar no trabalho das 8 horas da manhã às 9 horas da noite. Como atendia muitos clientes do setor de moda, resolvi sair da agência e me tornar consultora de estilo. Meu marido ficava angustiado e se dedicava ainda mais ao trabalho para garantir o dinheiro. Como somos muuuito bons de planejamento familiar, engravidei pela terceira vez. A chegada de Teresa mexeu muito conosco. Decidi me dedicar às crianças e gostei de assumir essa função. Resolvemos deixar São Paulo, pois a cidade se tornara muito cara para nós. Meu marido teve um convite para realizar um documentário em Minas Gerais e nos mudamos para Barbacena, no interior do estado. Você já tomou uma decisão errada na sua vida? A nossa foi essa. E foi muito importante tomar a decisão errada. Entendemos que tínhamos feito uma enorme besteira e que se ficássemos culpando um ao outro não conseguiríamos sair dali.

Por que esta foi uma experiência tão ruim?  

Barbacena é uma cidade onde todo mundo sabe da vida de todo mundo e onde o que você faz importa mais do que o que você é. Isso começou a nos incomodar. Percebemos que não daríamos conta de viver ali. Nossos filhos precisavam de horizontes mais amplos. Mudamos para Brasília e foi um renascer para todo mundo. Eu não queria mais só ficar com as crianças, queria fazer outra coisa, mas o quê? Gosto de cuidar e pensei: como posso cuidar de outras mulheres? Fiz todos os cursos que podia. Estava empenhada em não ocupar mais apenas o lugar da mãe. Fiquei mais dura com as crianças e minha relação com elas ficou ruim. Foi então que me ocorreu: “Deve haver um curso para aliviar essa coisa que é ser mãe. Não é possível que isso não exista!”. Aí encontrei uma autora americana, chamada Jane Nelsen, que escreveu o livro Disciplina Positiva. 

Como é o conceito de Disciplina Positiva? 

A Jane Nelsen se baseou no trabalho de dois psicólogos do início do século 20, contemporâneos de Freud, chamados Rudolf Drankos e Alfred Adler, e começou a adotar as suas lições com os seus sete filhos. A partir daí ela publicou o livro, que nada mais é do que um conjunto de ferramentas, algumas muito simples. Um exemplo: ela recomenda que, na hora de falar com a criança, o adulto se abaixe e fique na altura dos olhos dela.  Por quê? Porque isso vai construir uma relação de respeito e demonstrar que adultos e crianças têm igual valor.  Mas o livro traz propostas mais complexas, como a possibilidade da criança fazer parte da solução de problemas de comportamento. Em outubro de 2017, decidi fazer o curso de formação da Associação Disciplina Positiva.  

E depois, você continuou a se aprofundar nesse tema?  

Eu já era mãe de quatro crianças quando soube da formação da Escola de Parentalidade e Educação Positivas, na cidade do Porto, em Portugal. A escola foi fundada pela coach Magda Dias Gomes, que antes atuava na área de Recursos Humanos, trabalhando com executivos. Um dia, ela começou a se perguntar por que chegamos à vida adulta sem ter habilidades socioemocionais. Passou a falar sobre a parentalidade e a oferecer cursos para os que quisessem aprender a trabalhar com isso. Eu queria ir, mas sozinha. Então, Pedro, meu marido, disse: “Vai. Eu vou ficar com eles e resolver do meu jeito”. Joaquim, nosso caçula, estava com 11 meses quando fui para Portugal, em abril de 2018.  Encerrei o processo de amamentação dele com essa viagem. Mas foi muito importante afirmar que eu existia para além daquelas crianças. A mulher apaga a sua identidade para que nasça a identidade materna, o que causa muita angústia, dores e neuroses. 

Como foi a volta ao Brasil? 

As crianças estavam maravilhosas. Nunca vou esquecer o meu reencontro com o Joaquim, que era um bebê. Ele estava no colo do Pedro, na cozinha. Eu cheguei na porta, fiquei olhando. Deixei as minhas coisas de lado, sentei no chão. O Pedro botou o Joaquim no chão e eu chamei: “Vem cá, filho. Vem falar com mamãe”. E ele não veio. Ficou em pé segurando as pernas do pai. Fui chegando perto e ele não veio para mim. Ele estava magoado comigo, e estava no seu direito. Uma hora depois já estava no colo. Ainda tentei dar o peito. Mas ele disse “não”. 

Quais são as propostas da Parentalidade Positiva? 

Ela vai além das ferramentas da Disciplina Positiva e traz a reflexão como protagonista. Considera a história do pai e da mãe e o quanto ela impacta a educação que dão aos filhos para tornar essa relação mais equilibrada e menos pesada. Convida, por exemplo, a repensar o que entendemos como respeito e vínculo. A partir dessa experiência, saí do instrumental da Disciplina Positiva e passei a convidar pais e cuidadores a se observarem. 

Ser mãe ou pai não é instintivo? É um papel que é preciso aprender a desempenhar? 

Essa crença no caráter instintivo, natural, do comportamento materno e paterno é uma expressão da sociedade patriarcal. Internalizamos esses padrões de comportamento sem refletir sobre eles. No passado, não se debatia o papel de pai e mãe, nem o ato de cuidar. A criança não era observada na sua complexidade. Hoje temos uma percepção mais crítica sobre os lugares que ocupamos no mundo, o que tem produzido um grande confronto com a concepção tradicional de maternidade, onde não há espaço para a mulher. Minha proposta é que cada mulher possa se informar e refletir para criar o seu modo de ser mãe.

Nos meios de comunicação e na internet encontramos muitas opiniões de especialistas sobre questões da educação infantil, como o uso da chupeta, o controle do acesso à TV, a permissão para que o filho durma com os pais. Às vezes as ideias são conflitantes. Isso não contribui para tornar os pais ainda mais inseguros?

A figura do especialista que dita regras de cuidado surgiu nos Estados Unidos, no final da década de 50, quando os pediatras – homens, obviamente – foram colocados como os balizadores do que era o certo e errado na criação dos filhos. O excesso de informação e o fato de que a autoridade sobre as relações familiares é colocada no outro é uma combinação muito perigosa. A mãe deixa de confiar na sua intuição e de buscar perceber e entender suas escolhas. Ela vai dar conta de recusar a chupeta ao bebê? Ou vai dar a chupeta, porque não aguenta mais choro e o que ela quer também importa? Ela precisa avaliar e decidir.

No seu livro, você fala em dois diferentes modelos de parentalidade: o autoritário e o permissivo.  Pode comparar os dois? 

A proposta da Parentalidade Positiva propõe evitar esses extremos através do diálogo. Quando analisamos o modelo autoritário, entendemos o quanto normalizamos as violências do dia a dia. Normalizamos o grito, o silenciamento, a criança não ser ouvida. É o que está expresso em frases como “Vai fazer porque eu estou mandando”; “Engole o choro”; “Vai ter de raspar o prato”; “Se não comer tudo, não tem televisão”. A criança não pode errar. A criança não pode falar. A criança tem de obedecer.  A figura de autoridade se torna autoritária. Muitos de nós crescemos nesse modelo de relações muitíssimo hierarquizadas, que continua a ser praticado.

E o modelo permissivo?

O modelo permissivo, que surge como contraponto ao autoritário, na verdade é a ausência do pai e da mãe. Chamo esse modelo de abandono assistido. Pais e mães abrem mão da autoridade por preguiça e medo. A criança se torna o sol da casa, a razão de viver desses adultos. Ela faz o que quer:  não ouve, não respeita. Como resultado, não consegue lidar com a frustração. Sou mais crítica a este padrão do que ao autoritário, pois, para a criança, o dano de crescer em um ambiente permissivo é maior. Ela fica sem limites. Hoje vemos muitos jovens adultos que têm enorme dificuldade de lidar com a crítica. Faltou alguém dizer, enquanto cresciam: “Para. Não é sempre do jeito que você quer. Calma”. 

E como seria o modelo da Parentalidade Positiva? 

O pensamento sobre a Parentalidade Positiva nasce a partir da observação desses dois pólos. Na verdade, este modelo não se baseia em ideias recentes: o pediatra e psicanalista Donald Winnicott propõe conceitos libertários sobre maternar. A sua ideia de uma mãe suficientemente boa me parece sensata. O pensamento do educador Paulo Freire também é revolucionário, ao destacar a importância da autonomia. Freire ensina que o mestre não é detentor do conhecimento, é alguém que facilita o acesso ao conhecimento, e ressalta que, para ter autonomia, a criança precisa ter segurança. Esses conceitos hoje são parte da Parentalidade Positiva, que convida pais e outros cuidadores a sair dos extremos para chegar ao meio. E este caminho do meio é a consciência. É o pai ou a mãe estarem atentos para perceber quando são autoritários, violentos ou permissivos. Sem a análise sobre a sua relação com os filhos, os pais ficam à deriva. 

É possível construir uma relação sem conflitos entre pais e filhos?

Mesmo numa relação equilibrada, em que há um convívio prazeroso, o exercício da maternidade e da paternidade não está livre de conflitos. Mas o conflito não é necessariamente ruim. O conflito é a exposição de ideias, o entendimento de que há uma diferença na forma como percebemos o mundo. Quando nos abrimos para ouvir essas ideias divergentes, sem achar que precisamos convencer o outro, o conflito se torna um meio de expansão e crescimento.  

Você fala muito da educação no espaço doméstico, mas os conceitos da Parentalidade Positiva também valem para escolas e outros locais que têm a função de educar ou formar?

Nós costumamos pensar a educação dos nossos filhos dentro do espaço doméstico, mas ela também acontece no espaço público. As propostas da Parentalidade Positiva se aplicam a qualquer adulto envolvido no cuidado da criança: professores, padrastos, madrastas, avós… 

Nas camadas médias, é muito comum o envolvimento de uma empregada ou babá no cuidado das crianças. Como a Parentalidade Positiva funciona com a entrada dessa terceira pessoa? Com seus quatro filhos, você recorreu a esta ajuda contratada?

Eu precisei e usei essa ajuda. No Brasil nós não temos um sistema de trabalho e um sistema escolar que permitam que cuidemos das crianças sem recorrer a esta mão-de-obra. Mas, pela minha experiência, o cuidador da criança observa como a casa funciona. Se, em casa, os adultos ouvirem e respeitarem a criança, a babá ou empregada também poderá adotar essas atitudes. Cada um que se relaciona com o nosso filho abre um mundo para ele. As pessoas não precisam ser todas iguais ou agir sempre da mesma forma com as crianças. Eu e meu marido olhamos na mesma direção em relação ao que é educar. Mas cada um faz de um jeito. Tem dia em que eu quero estrangulá-lo porque ele fez algo de modo completamente diferente do meu. Mas há um entendimento nosso, enquanto casal, sobre a importância de respeitarmos nossas diferenças. E o meu jeito é só o meu jeito. Não é o jeito certo. O que sustenta essa convivência é um respeito muito grande pelas nossas crianças. Gritamos pouquíssimas vezes com as crianças, pouquíssimas vezes as atropelamos com as nossas vontades. O importante é que as crianças sejam ouvidas. Se a cuidadora fizer diferente de mim, mas com base no respeito, ela vai encontrar um caminho. E eu não controlo. Uma coisa importante para a mãe é abrir mão da onipresença. 

Como se constrói esse respeito na família?  

Tradicionalmente, entendemos o respeito como parte de uma hierarquia. É comum dizer: “eu devo respeito a alguém”. Mas é bem melhor dizer: eu sinto respeito. E sinto respeito à medida em que sou respeitado. O respeito precisa ser uma via de mão dupla. Caso contrário, o sentimento que chamamos de respeito é, na verdade, medo. Medo que costumava ser o cerne de relações com o pai, a mãe, o chefe, o marido. Medo que impede as pessoas de se expressarem verdadeiramente. No entanto, respeitar a criança não é fazer tudo o que ela quer: é estar disposto a ouvir e a falar, entendendo que o adulto tem um papel fundamental. Educar com base no respeito mútuo demanda que os adultos sejam tão adultos que não tenham medo de ouvir as crianças. Tem uma pergunta que costumam me fazer e me irrita profundamente:  “Lua, meu filho chora para ir na cadeirinha do carro. O que faço?”. E daí que essa criança chora? Abrir mão do assento não está em questão. Como adulto, você sabe o que precisa ser feito e é capaz de suportar o choro e os gritos de uma criança frustrada. Não é falta de respeito pegar uma criança e colocar na cadeirinha. Falta de respeito é deixar que ela escolha algo que vai colocar a vida dela em risco. 

A obediência não tem um lugar na relação de pais e filhos? E quando você diz para a criança: “Não pode pegar a faca”? 

 Penso que o respeito e a colaboração têm um lugar. A obediência, não. Posso dizer: “Não quero que você pegue a faca”. A criança pode responder: “Por que não? Nem essa faca aqui, que não tem ponta? E se você me ensinar a pegar uma faca?”. A obediência não abre espaço para este questionamento e evita que a criança desenvolva autonomia, tão importante para a autoestima. No entanto, é preciso deixar claro que há coisas inegociáveis e que elas variam de casa para casa. Na minha casa pode pular no sofá. Talvez na sua não possa. Então, quando for na sua casa, vou dizer ao meu filho que ali as regras são outras. Talvez eu precise me levantar muitas vezes para tirá-lo de cima do sofá, ao invés de ficar tomando uma cerveja com os meus amigos, até ele compreender a situação. As dificuldades surgem quando os adultos não querem investir seu tempo com as crianças. Preferem dar uma ordem e pronto.  

E quando você tem uma disputa de vontades? O pai quer ler e não quer barulho na casa. As crianças querem ver TV com som alto. Como resolver esse conflito de maneira positiva?

Precisamos pensar nas nossas expectativas. Se você tem criança em casa, talvez tenha de rever as suas expectativas sobre o silêncio. E talvez precise estabelecer com seu filho um volume de televisão que fique confortável para todos. Então, enquanto as crianças assistem televisão, você pode ler o seu livro, mas talvez não no silêncio, porque, afinal, é uma casa com criança. 

Como você vê a aplicação de castigos – como mandar a criança para o canto “para pensar”? 

É muito difícil quebrar a crença de que este é o melhor jeito de educar um filho. Um castigo pode até interromper um mau comportamento, mas o que está sendo construído nessa relação? Meu foco é o longo prazo. O castigo não funciona porque ele não muda a percepção da criança sobre o seu próprio comportamento. Por isso não acredito em castigos. 

Como lidar com a situação da criança que se joga no chão da loja e começa a espernear quando os pais se recusam a comprar um brinquedo? Tem um método?

É preciso entender o que está acontecendo com a criança. O adulto precisa sair das suas próprias dores, da vergonha de ter alguém olhando, do sentimento de afronta à sua autoridade. Parar de pensar em si e olhar para a criança. Espera. O que está acontecendo? Eu também, às vezes, queria espernear por querer algo e ninguém vai me dar. Difícil mesmo. Então eu vou sentar do lado dela e dizer: “Está tudo bem você querer esse carrinho. É muito bonito mesmo. Eu entendo você querer. Vem cá. Deixa eu te dar um colo? Você pode ficar triste no meu colo. Você pode sentir tudo que você está sentindo”. Então, não é um método, não é faça isso ou faça aquilo. É buscar entender quem são nossos filhos. 

O seu público é, majoritariamente, de mulheres. Como os pais entram nessa jornada?

Os maridos estão se aproximando. Já tem homens que me acompanham nas redes sociais. São só uns 5%, mas estão ali. No início da pandemia, eu e o Pedro, meu marido, criamos a Rede Amparo, um centro de cursos online, com o objetivo de estender o amparo que oferecíamos em workshops a mais pessoas e convidar parceiros que admiramos para trabalhar conosco. Um dos objetivos dele na Rede Amparo é atrair os homens para essa conversa, incentivá-los a tirar as máscaras da masculinidade e observar sua relação com os filhos. 

Você acha que hoje os homens hoje participam mais da educação dos filhos e até reduzem sua dedicação ao trabalho para viver mais o papel de pai?

Enquanto mudança social, essa transição ainda está bem distante. Há um movimento nesse sentido, mas é quase incipiente e muito frágil, porque os homens ainda não bancam a mudança no sistema de que precisamos. Eles ainda estão precisando entender e se fortalecer. Eu queria que os presidentes de empresas pensassem mais sobre os pais, homens e mulheres. Entendessem que uma criança, quando nasce, não é um assunto da mãe. Ela é um assunto da sociedade. 

No seu trabalho você lida basicamente com pais de filhos pequenos ou também tem trabalhado com pais de adolescentes e jovens? As relações vão mudando ou os princípios são os mesmos? 

Os princípios são os mesmos, mas a relação vai ganhando novos contornos, porque todo mundo vai amadurecendo. O tempo é maravilhoso. O tempo permite que os filhos tenham a possibilidade de elaborar as dores, que sempre existem na relação com os pais. E o que acho lindo é a possibilidade de falar sobre esses sentimentos. Com meu filho mais velho eu já vivo isso. Ele consegue me dizer do que não gostou, se uma atitude minha o deixou magoado. 

Como você vê a etapa da adolescência?  

A adolescência é uma separação. Ela provoca um luto muito grande na família. Vem aquele sentimento de injustiça: “Eu fiz tudo por essa criança e agora ela está fechando a porta do quarto para mim. Quem ela pensa que é?”.  A mãe perde o lugar, perde a importância e se sente muito ferida; por isso, não consegue acolher e confiar. A mãe vê o mundo como um lugar muito perigoso, onde todos estão dispostos a fazer mal ao adolescente.  Os pais também sentem essa tristeza, mas encontram caminhos mais solitários. Para eles, é mais difícil lidar com essas emoções. Mas a adolescência é uma oportunidade para reafirmarmos os princípios da Parentalidade Positiva. O adolescente avaliar a sua breve história e passa a se questionar: O que aprendi nessa família? Quais valores? Como é percebida a ética e a moral aqui nesse núcleo? Com essas respostas, esse adolescente vai entender o que serve para ele naquele momento e o que prefere abandonar. E vai em busca de novas crenças e ideias para compor sua identidade. Isso é doloroso, porque a mãe ou o pai podem sentir que o filho os abandonou. Deixar a porta aberta para que o adolescente faça o seu julgamento, experimente e escolha, sem medo de perder o amor, é um caminho para que a relação se mantenha.

Entrevista concedida a Anabela Paiva

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